quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Poema Palavras ao Mar, de Vicente de Carvalho – O Poeta do Mar

Meu conterrâneo, falecido aqui mesmo em Santos em 1924.
Do livro Poemas e Canções de 1965.

Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas - a minha alma
Abriu-se para a vida como se abre
A flor da murta para o sol do estio.

Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras:
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro;
E as leves garças, como olhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o vôo à tona das espumas...

É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os sacode mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes...

Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de ti unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouviam,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.

Ó velho condenado,ao cárcere
das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noite,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores...

Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
- Longínquo céu - de um esplendor distante.
Debalde, ó mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.

Sei que a ventura existe,
Sonho-a; sonhando a vejo, luminosa.
Como dentro da noite amortalhado
Vês longe o claro bando das estrelas;
Em vão tento alcançá-la, e as curtas asas
Da alma entreabrindo, subo por instantes...
Ó mar! A minha vida é como as praias,
E o sonho morre como as ondas voltam!

Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias!Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo eriça o pêlo!
Ouço-te às vezes revoltado e brusco,
Escondido, fantástico, atirando
Pela sombra das noites sem estrelas
A blasfêmia colérica das ondas...

Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou meu destino... Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o vôo!

Ah! cavassem-te embora
O túmulo em que vives - entre as mesmas
Rochas nuas que os flancos te espedaçam,
Entre as nuas areias que te cingem...
Mas fosses morto, morto para o sonho,
Morto para o desejo de ar e espaço,
E não pairasse, como um bem ausente,
Todo o infinito em cima de teu túmulo!

Fosses tu como um lago,
Como um lago perdido entre as montanhas:
Por só paisagem - áridas escarpas,
Uma nesga de céu como horizonte...
E nada mais! Nem visses nem sentisses
Aberto sobre ti de lado a lado
Todo o universo deslumbrante - perto
Do teu desejo e além do teu alcance!

Nem visses nem sentisses
A tua solidão, sentindo e vendo
A larga terra engalanada em pompas
Que te provocam para repelir-te;
Nem, buscando a ventura que arfa em roda,
A onda elevasses para a ver tombando,
- Beijo que se desfaz sem ter vivido,
Triste flor que já brota desfolhada...

Mar, belo mar selvagem!
O olhar que te olha só te vê rolando
A esmeralda das ondas, debruada
Da leve fímbria de irisada espuma...
Eu adivinho mais: eu sinto... ou sonho
Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo
Pelos fundos abismos do teu peito.

Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!... A alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos,
Os teus gritos de cólera insubmissa,
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra,
De tanta vida condenada à morte!

Ninguém entenda, embora,
Esse vago clamor, marulho ou versos,
Que sai da tua solidão nas praias,
Que sai da minha solidão na vida...
Que importa? Vibre no ar, acode os ecos
E embale-nos a nós que o murmuramos...
Versos, marulho! Amargos confidentes
Do mesmo sonho que sonhamos ambos!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Hi-Scores

A versão Brasileira do fantasy surfer ficou mais legal de jogar do que a original americana.

Terminei o ano com ótimo desempenho no Pipe Master, ficando em #11.

Ano que vem vou dar trabalho pra galera e participar desde o começo da temporada.

http://www.hiscores.com.br/site/index.php

Urubuservando

Para variar o waves não deu nenhuma linha sobre o caso da puxada de leash.

Infelizmente esse comportamento não é exclusividade do waves. Parece que a imprensa especializada brasileira cultua a superficialidade em suas coberturas pseudo-jornalísticas .

Reparem na qualidade da "Cobertura Especial" dedicada ao Pipeline Masters desse ano:
http://waves.terra.com.br/surf/noticias/competicao/world-tour/billabong-pipeline-masters/2009/386

Um site com a reputação de maior do Brasil precisa caprichar um pouquinho mais no seu conteúdo. Investir mais em conteúdo exclusivo de alta qualidade (não vale fotinho meia boca que não tem chance de entrar em revista) e não se contentar apenas em reproduzir releases, comportamento que está se tornando padrão editorial.

Já nos states o caso foi abordado com bom humor pelo gigante Surfline.com.

Abaixo está a minha tradução do conteúdo publicado pelo Surfline:

"O dia não poderia terminar sem seus dramas. A bateria do Dingo vs. Damo pareceu um momento saído diretamente do clássico cult Surf no Havaí. Faltando 10 segundos para o final, Damo precisava de 3.76 e Dingo tinha a prioridade. Um triangulo entrou e Dingo remou nela, um pouco fora de posição. Damo estava alguns metros mais no raso e conseguiu entrar na onda, mas a mão de Dingo se enrolou no leash de Damo, que tomou uma vaca e perdeu a bateria. "Ei professor, queime essas fotos". Taj deixou escapar um sorrizo amarelo do canal, em referencia a cena em que Lance Burkhart puxa o leash de Rick Cane".

Veja você mesmo em (o texto mencionado está na página 20):
http://www.surfline.com/wct-contest-zone/taj-burrow-wins-billabong-pipeline-masters--aussie-beats-slater-in-final_39441/1/

Detalhe: no vídeo publicado junto com esse texto, é possível ver perfeitamente o momento em que Dingo estica a mão para deliberadamente segurar o leash do adversário.

Atualização: Como não poderia deixar de ser o waves já noticiou a "ocorrência". Para ver, clique aqui.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Se a moda pega...

Dean Morrison jogou sujo novamente na Triple Crown. Depois de impregnar geral pra cima do André Silva no Reef Hawaiian Pro em Haleiwa, puxando a lycra do Brasileiro em duas ondas no final da bateria (para ler a matéria publicada no waves, clique aqui), dessa vez o trapaceiro atacou pra cima de Damien Hobgood em Pipeline no melhor estilo "Surf no Havaí/North Shore" e puxou a cordinha na cara dura.

O pior de tudo é que a ASP, como já é de costume no Hawaii, tentou tapar o sol com a peneira e disse que não foi nada. Eita rapaziada com as "costas quentes" esses tais de australianos e havaianos. Nunca pinta sujeira pra cima deles.

Essa foi apenas mais uma varrida pra baixo do tapete.

Mais sobre o assunto:
http://www.blog.thegoodss.com/hobgoods-253/
http://surfabout.blogspot.com/2009/12/coisa-feia.html

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sunny Vacilão

A palhaçada está rolando solta em Pipeline nesse momento e o principal protagonista não poderia ser outro.

Sunny chegou atrasado para sua bateria e foi substituído por Torrey Meister. Só faltou ele dar porrada no Randy Rarick. Por diversas vezes tentou arrancar a lycra de competição da mão de Randy e entrar na água na marra.

Isso foi o que deu pra ver pelo webcast, imagino como não foi esse papelão ao vivo.

Sem falar que, segundo Nuno Jonet, locutor do webcast em português, no WCT não tem alternates e os surfistas podem entrar atrasados nas baterias. Mais um exemplo de que as regras não valem nada no Hawaii, o verdadeiro Velho Oeste do surf, onde o que vale é a lei do mais forte.

Falando em vacilo, nesse quesito a Billabong é líder mundial, com toda certeza. Além de transformar o Pipe Master em palhaçada, não fez a transmissão ao vivo do WCT Feminino em Honolua Bay no melhor mar que se tem notícia, com a mulherada entubando fundo naquelas direitas de responsa. Vacilo imperdoável.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Parko vence em Sunset e Polo confirma vaga para 2010

Final animal em Sunset Beach!
Parko venceu de virada em cima do Sunny Garcia com atitude de campeão. Pegou mais ondas que todos os outros e se esforçou muito pela vitória. Agora ele lidera a Vans Triple Crown e vai com tudo para Pipe tentar o Bicampeonato da Triple Crown e o título mundial.

Com o segundo lugar no campeonato, o mala do Sunny pulou para 2º no ranking da Triple Crown e recebeu o convite para o Pipe Master. Só falta agora ele tentar bater novamente em alguém...

Alejo Muniz estreiou com o pé direito no Hawaii e foi o melhor brasileiro em Sunset, terminando na 9ª colocação no maior mar da história do evento. Para ficar ainda melhor, faturou o Rookie of the year da Tríplice Coroa Havaina. A premiação foi, no mínimo, ridícula: USD 500. O que vale mais é o respeito, mas se é pra dar dinheiro que seja uma quantia no mínimo razoável.

Se ele estivesse usando uma biqueira Nose Guard, teria um bonus de não sei quantos mil dolares...

Com isso o Brasil fatura o prêmio de Rookie of the year da Vans Triple Crown pelo segundo ano seguido. Jihad faturou o mesmo prêmio no ano passado e fez bonito esse ano de novo. Jihad chegou até as quartas de final e conseguiu a maior nota do evento, no maior dia.

Outro que tem muito para comemorar é Marco Polo, que fez bonito e conseguiu a sua classificação no Hawaii, surfando muito em Haleiwa. Ele terminou na 14ª colocação do ranking WQS.

Pedra e Pigmeu chegaram muito perto e ficaram de fora por pouco. Uma pena.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pig com autoridade – A torcida continua.

Após a dobradinha ao lado de Jihad Kodr na fase dos 64 em Sunset, Pigmeu concedeu a seguinte entrevista a Peter Mel:

PM: Estamos aqui com Bernardo Miranda, que acabou de vencer a última bateria, uma bateria muito importante para ele. Em primeiro lugar, como estão as condições lá fora?

BM: Bem difíceis. Estão rolando poucas ondas, poucas séries. Mas se você conseguir encontrar a boa, dá pra fazer um par de manobras lá fora e conectar com o inside. Eu tive sorte em achar a boa, fiz duas manobras no outside e consegui a conexão com o inside. Eles deram uma nota boa.

PM: Como é entrar na bateria sabendo que você precisa de um bom resultado para se classificar para o WT? Como você controla a pressão?

BM: Eu não penso nisso. Tento não pensar. Penso só em me divertir e surfar. Tenho um resultado baixo para descartar, mas eu tento não pensar nisso. Tento apenas me divertir. Não quero colocar pressão sobre mim. Tenho bastante apoio dos amigos e da família e isso me faz ficar mais relaxado.

PM: Você está bem ativo nas baterias, surfando muito bem. Parabéns e boa sorte nas próximas rodadas.

BM: Muito obrigado. A gente se vê por aí. Obrigado a toda galera que ta acompanhando aí no Brasil, tenho recebido um monte de mensagens. Obrigado pelo suporte, galera de Recife, Maceió e do Brasil. Obrigado Galera.

Detalhe: Pig está a uma bateria da sua classificação para o WT do ano que vem.

Na próxima ele enfrenta William Cardoso, Kekoa Bacalso e Glen Hall.

William também está firme na briga por uma vaga na elite do ano que vem. Precisa passar mais duas baterias e chegar na semi para chegar nos 12.500 pontos.

Neco também já está classificado para o round dos 32 e precisa vencer o evento ou ficar em segundo para ultrapassar os 12.500 pontos.

Ainda no round dos 64 e com chances de classificação estão o Rodrigo Dorneles, que defende com unhas e dentes seu 14º lugar e se passar a sua próxima bateria já descarta seu pior resultado e fica ainda mais perto da elite. Na próxima ele enfrenta Adrian Buchan, Flynn Novak e Alejo Muniz.

Alejo, se vencer o evento pode chegar aos 12.725 pontos e se classificar para o WT mesmo não tendo priorizado o QS nesse ano. O moloque está surfando muito em Sunset.

Pablo Paulino e Wiggoly Dantas também estão no round dos 64 e mesmo que vençam o evento chegam apenas na casa dos 12.300.